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Leia aqui um trecho de "pela inevitável queda no infinito abismo", de Amanda Machado:

 

Quando a guerra acaba, ninguém volta, o mesmo, para a mesma casa. Algumas foram completamente queimadas, outras seguirão abandonadas porque os seus donos desapareceram; foram fatalmente alvejados, torturados ou tiveram suas memórias irreversivelmente afetadas.

          Quando o acordo de paz é assinado, ninguém comemora, exceto o alto funcionário do Estado, que poderá tirar férias. Todos são derrotados; os precavidos, os incautos e a escritora. Ninguém sabe parar as balas, suas vozes são silenciadas pelas bombas e do mundo que conheciam quase nada restará.

         Quando a guerra acaba, outros facínoras se preparam, alguns heróis serão presos ou mortos antes do próximo conflito. O que permanece é o trabalho da escritora, que fará um poema sobre os seus papéis incendiados e os mortos, sem nome, empilhados.

          A guerra acaba como começa: ganhando as ruas lentamente ou como a luz de uma lâmpada subitamente apagada. Mas a escritora sabe que é preciso fazer poemas para serem declamados depois da noite, porque são eles que poderão iluminar o escuro do mundo, durante e depois da guerra.

pela inevitável queda no infinito abismo, de amanda machado

R$ 45,00Preço
  • Amanda Machado é mineira de Juiz de Fora, leitora de prosa, poesia, manual de instruções, bula de remédio e verso de embalagens de xampus. É profissional da educação básica pública, porque acredita na educação como um direito inalienável, é pesquisadora, mestra em história da educação e escritora.

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