Leia aqui um poema de "palavras entre janelas mortas", de Fábio Bach:
Bolhas
Ferroadas
Tristes
A doença corrói como unhas de gato
Há febre e bolhas no sangue
Quero uma bebida tão forte
Como a doença que arranha as paredes
Do pulmão que não mais funciona
Que me corrói como carrapato
Bolhas
Na bebida
No sangue
Como ferroadas de abelhas na nuca
Como a solidão do fim do mundo
Como aranhas por dentro das veias
Que estouram em roxo hematoma
Que matam como formigas
Bebida de sangue purpúreo
Bolhas
De ácido
Ácido clorídrico
Que destroçam como bocas de cão
Que perfuram como balas de chumbo
Que envenenam como serpentes
Bolhas de fébrea tristeza
Ácida como o amor
Que nadam como vermes na fossa
Bolhas
Lembranças
Que trazem à tona reminiscências
Que quebram as pernas com martelos de ossos
Fazem amor com o câncer da alma
E geram filhotes de dores agudas
Como carne seca e esponjosa que se solta do coração
E preenche os pulmões de má água parada
E fervem os olhos lacrimantes de solidão
Fervem
Fervem
Fervem
Bolhas
palavras entre janelas mortas, de fábio bach
Fábio Bach nasceu em março de 1983, em São Paulo.
Cineasta, ator, dramaturgo, diretor teatral e professor de Cinema – tendo ministrado aulas no Studio Fátima Toledo e no Instituto de Cinema – Fábio Bach começou sua carreira literária com uma coletânea de dramaturgias, poesias e outras reflexões intitulada “Escritos: Palavras de Grotesco e de Surreal”, pela editora Primata. Deu continuidade ao seu trabalho, focando exclusivamente em escrita teatral, com o livro “Lago (Dramaturgias da Dor)”, pela editora Ópera Editorial. A coletânea de poesias “Palavras Entre Janelas Mortas” segue a mesma pesquisa do autor acerca dos vários estágios da depressão representados em alegorias e metáforas, buscando a visceralidade poética presente em suas obras anteriores.