Leia aqui um poema de "homem-gaveta", de Richard Plácido:
andar dez passos neutros
visitar de vez em quando a casa
não há como se sentir paralelo às avessas
garantir o matrimônio
Carlos fez como qualquer outro faria
morreu
o desgosto
a cana azeda na boca
os lábios arranhados
Carlos nada fez
nada pôde fazer
sentinelas marcharam no sentido oposto
qualquer que seja a medida ela estará errada
inexatidões de cores
um cachorro morto levanta e dá três passos vacilantes
cai novamente
língua pra fora
perfurada de micoses, balas e sede
a tristeza aguarda
as dimensões seguintes seguirem seu prumo
homem-gaveta, de richard plácido
Richard Plácido é escritor e mestre em estudos literários (PPGLL/UFAL). Lançou dois livros de poemas: Entre ratos & outras máquinas orgânicas (Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2016) e A festa do rouxinol (Loitxa Lab, 2021). Organizou, com Érika Santos, a coletânea QUEBRA: poesia negra mcz (Editora Philos, 2020), financiada via edital do Sintietfal. É editor do selo independente multiplataforma Loitxa Lab e livreiro na Novo Jardim Livraria e Café.