Leia aqui um poema de "o frio das minhas cinzas", de Aracê e Maratus:
LARGADA NO CHÃO
Escalava
A parede áspera
E não sentia.
Imune…
A lagarta.
As formigas
Em furacão
Voavam,
Coitadas,
Caíam como nada
E explodiam
No chão
E ventava…
A aranha
Tão formosa
Caiu e ali
Deixou de ser.
O verde…
O líquido
Esparramado.
Lá em cima
Já na parede
O pequeno ser
Frágil por ora…
A lagarta
Que não se
Mostrava,
Escondida…
A beleza
Refletia
Só lá dentro
Em seu peito,
Encapsulada.
O colorido
Vivo
Irradiava
No teto
O pequeno casulo…
Formoso,
Balançava
Até que caiu
E no chão
Rompeu-se
E lá estava
Largada
No chão
Ali mesmo
O que foi…
Largada
Lagarta.
o frio das minhas cinzas, de aracê e maratus
Aracê é uma viajante temporal, mas poeta quando convém. A poeta não existe concretamente, é a voz que vaga no corpo de um morador de Brasília. Surgiu livremente da manifestação da aurora em uma manhã qualquer da pandemia. As flores, conta Aracê, tinham um aroma tão agradável que foi suficiente para dar vontade à poetisa para nascer espontaneamente.
Para além dela, há Maratus, fruto do ventre de Aracê. Maratus nasceu já velho, independente, esquisito por natureza. O poeta, ao nascer, tomou consciência de que queria se isolar de tudo e de todos, mas não por ódio ou enjoo perante a humanidade, como diz o clichê. Na verdade, o poeta, apaixonado pela natureza, em um ato de liberdade, se isolou na Mata Atlântica e por lá ficou, sem ressentimento, apenas pelo amor, pelos cantos de seus amigos pássaros e pelo cultivo das flores em seu coração.
No plano da existência, Aracê e Maratus encontram morada em Marcos Nasarét, morador de Brasília, estudante de Direito e, como os demais, poeta. Marcos se caracteriza por ser o abrigo de tantas possibilidades poéticas, o qual, por meio de sua presença orgânica, traduz para o real as imagens poéticas desenvolvidas por seus heterônimos.