Leia aqui um trecho de "corpos pela cidade", de Vinícius Squinelo:
Em uma noite, clara de um começo de inverno do hemisfério Sul, ele viu. Nas abas da tela, a imagem de seu próprio bairro apareceu, nítida. Morrera alguém! Agora, há poucos instantes. O corpo ainda estendido no chão.
Sem motivo, o coração palpitava, o corpo quase retorcido não teve dúvidas. Desceu das escadas para a rua, e logo para aquela rua, uma esquina qualquer da cidade (não tão) grande.
A multidão já se acumulava, celulares e câmeras na mão, no espetáculo mórbido de cada dia. Caralho! Na pressa, esqueceu sua própria máquina de registros. Porra! Que cabeça…
A equipe de resgate lamentava em um canto, guardando luvas e já retornando para a ambulância. Policiais cercavam o local, batendo papo distraidamente. A funerária já manobrava com sua boca traseira prestes a abrir e receber aquele no chão.
Se voltasse para casa, tinha certeza que perderia o restante do espetáculo. No fundo, sabia que seria como sair bem no finalzinho de um filme, que o desfecho já estava definido, faltando apenas aquela catarse final.
corpos pela cidade, de vinícius squinelo
Vinícius Squinelo, 35 anos, nascido e criado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Pai da Athena. Filho de professora universitária, mais um filho sem pai no Brasil que conhecemos. Formado em Comunicação Social, habilitação em jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em 2009. Atuando em jornais diários impressos e on-line desde então. Hoje é diretor de jornalismo do site TopMídiaNews, também em Campo Grande.