Leia aqui um trecho de "bati três vezes na madeira e mesmo assim você morreu", de Marcos Morelli:
Depois que você se separou, encontrou refúgio aqui, sem ninguém saber. Voltou ao básico, se aproximou ainda mais de mim.
A casa, envelhecida e ainda imponente, vai morrendo. Mas aquele cheiro não.
Queria pegar tudo para mim: suas canetas, taças de vinho, mochila bege, regador, Airfryer, xícara preta com frase do Paulo Coelho e montar um museu da sua vida dentro da minha casa.
Catalogar tudo. Ver por quanto tempo você vai ainda habitar essas coisas com seu jeito doce de encantar a todos.
Você foi a única pessoa que passou uma tarde inteira comigo lendo aquele texto antigo, um xerox todo amassado e ainda bonito, charmoso, que você guardava. Fez uma cópia para mim e eu guardo até hoje dentro de uma caixa com fotos antigas.
bati três vezes na madeira e mesmo assim você morreu, de marcos morelli
Marcos Morelli é escritor, músico e jornalista. Mora em São Paulo.
É autor de “Ninguém usa a piscina em maio” (Patuá) e pela Opera Editorial publicou “Quantas guerras cabem em um mesmo coração?”, a primeira parte da Trilogia do Abandono. Já participou de coletâneas de contos e crônicas no Brasil e em Portugal, além de ter publicado e-books de ficção.