Leia aqui um trecho de "as dores [crônicas] ideológicas", de Maria Lucia Macari:
O Brasil parece sofrer das dores crônicas das ilusões de futuro de um ideal defasado. O que nunca aconteceu e não para de não acontecer. O que insiste apesar das dores. As dores crônicas costumam ser um diagnóstico para as dores que persistem e que não possuem uma causa “detectável”. Uma “dor persistente que dura de semana a anos”, segundo o google. Quando os médicos e os fisioterapeutas não sabem mais o que fazer com as queixas de dores crônicas de uma pessoa, mandam para o psicanalista. Não foi assim que Freud inventou a psicanálise? A psicanálise renasce todos os dias no pulsar das dores sem nome. A dor precisa ser transformada. Durante um tempo indeterminado, o psicanalista e o sujeito que sente dores crônicas passam a jogar com os significantes em uma trama de novos arranjos de significados. Nesse jogo, as dores vão ganhando novos destinos, novos contornos de expressão.
Falar sobre dores crônicas é, também, falar sobre a gramática do mundo em que vivemos. O sintoma costuma ter uma história para além da história singular do sujeito. Qual é a história que oferece as amarrações para as nossas narrativas? Qual é a história que instaura os vãos onde faltam as palavras? Qual é o território que alimenta as fantasias de nossa realidade social? Que fantasias estruturam esse território? Que parêntese é possível criar no castelo das ilusões que, tal qual os fortes de pedras, custam a desmoronar? Qual o desejo em causa? É possível uma escuta que não reproduza a alienação que nos condena? Os questionamentos não cessam.
as dores [crônicas] ideológicas, de maria lucia macari
R$ 55,00Preço
Psicanalista, escritora e viajante, não necessariamente nessa ordem. Nascida na região do pampa que une Brasil e Uruguai. Doutora em Psicologia Social e Institucional (UFRGS) com período sanduíche no México (UMSNH), mestra em Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS), graduada em Psicologia (UFSM). Diretora e membro do comitê editorial da revista internacional Materialismos. Cuadernos de Marxismo y Psicoanálisis.